Mobilidade para os pagamentos: uma questão de hábito

Publicado por Estevão em

Postado em 24/04/3013

 

Escrito por *Jamil Ismael Junior

Mobilidade para os pagamentos: uma questão de hábito

 

Não restam dúvidas de que o pagamento móvel brasileiro se beneficiará imensamente dos investimentos, dos anos de aprendizado, das ofertas geradas e da criatividade dos profissionais da indústria dos cartões. Para viabilizar a popularização desse hábito cabe às empresas investirem em sistemas e campanhas que tragam segurança e confiança aos seus clientes

 

 

Uma das situações de nirvana da economia ocorre quando uma oferta em larga escala encontra e se harmoniza com uma demanda de mesma magnitude. O PIB aumenta, empregos são gerados e os consumidores ficam satisfeitos. Enfim, a sociedade lucra como um todo. E, curiosamente, por vezes a oferta não só precede a demanda, como ela mesma a cria. A indústria de celulares que o diga.

 

Estatísticas apontam que o número de celulares no País, em janeiro deste ano, ultrapassou a marca de 260 milhões, ou algo próximo a 1,33 celulares por habitante. A expectativa da consultoria IDC é que a quantidade de smartphones no mercado nacional chegue a 28,9 milhões de aparelhos até o final de 2013. Para 2017, a previsão é de que sejam 66,3 milhões de dispositivos. O aumento nestes cinco anos será um dos maiores: 129,4%, atrás apenas da expectativa de aumento para a Índia, que chegará a 459,7%.

 

Em paralelo ao consumo dos celulares inteligentes crescem as funcionalidades agregadas aos aparelhos. Ao contrário dos modelos lançados há pouco mais de uma década, que apenas faziam e recebiam chamadas, os usuários querem cada vez mais utilizá-los para atividades antes restritas aos computadores, como realizar pagamentos, movimentações bancárias e compras online. Entretanto, para essas funções se tornarem comuns e sem perigos, alguns avanços precisam ocorrer, até mesmo na cultura social. No Brasil, por exemplo, a situação entre oferta e demanda é bastante peculiar e desafiadora ao mesmo tempo. De alguma forma, todos os elementos estão disponíveis e poderiam ser aplicados, com os devidos investimentos em curto e médio prazo, dependendo do grau de sofisticação e complexidade do modelo a ser oferecido.

 

Pelo lado da demanda, teoricamente, os consumidores com celulares mais simples poderiam utilizar quase que de imediato o padrão africano de pagamento, com transações por meio de SMS, disponível até mesmo para a população não bancarizada, que representa 36% dos brasileiros. Já para os usuários de smartphones existem formatos de pagamentos móveis mais sofisticados como o japonês, que utiliza tecnologia de NFC (near filed communication), que permite transações simplificadas ou aquelas que transformam os celulares em leitores de cartões, igual às máquinas encontradas nos estabelecimentos comerciais.

 

Porém, mais do que os empecilhos tecnológicos, a maior barreira para a massificação dos pagamentos móveis ainda é a resistência dos consumidores à adoção deste serviço. Outro obstáculo a ser superado por esse novo modelo de pagamento é a concorrência direta com uma indústria madura e bem sucedida, representada pelos cartões de crédito e débito. Ao longo dos anos, esse segmento tornou-se em um dos mais criativos e inovadores do País, transformando os cartões de plástico em poderosos instrumentos de vendas. Isto, sem mencionar as parcerias firmadas com seguradoras, marcas de varejo, companhias aéreas e editoras que proporcionam vantagens para os clientes e que, consequentemente, facilitam a sua fidelização.

 

Em contrapartida, a tecnologia de pagamentos móveis traz players não explorados pelas empresas de cartões, que incluem desde as grandes operadoras – que embora já atuem como transmissora das mensagens, passam a ter um papel mais relevante – até as companhias de tecnologia locais e estrangeiras, que surgem com o desenvolvimento das soluções. Há também, e, por consequência, players que perderão relevância ou até desaparecerão, a menos que redirecionem a sua atuação. Torna-se mandatório, portanto, a criação e acomodação de modelos de negócios inéditos, onde existirão, certamente, ganhadores e perdedores.

 

De qualquer forma, é fato que o sistema de pagamentos móveis no Brasil crescerá e se consolidará nos próximos anos. As ofertas serão híbridas, em função das características nacionais, atendendo as tecnologias dos smartphones e de celulares mais simples, a população de alta e baixa renda, bancarizados e não bancarizados. Também é certo que, assim como os cartões não excluíram o uso dos cheques e do dinheiro em espécie, os celulares não eliminarão os cartões.

 

Por fim, não restam dúvidas de que o pagamento móvel brasileiro se beneficiará imensamente dos investimentos, dos anos de aprendizado, das ofertas geradas e da criatividade dos profissionais da indústria dos cartões. Para viabilizar a popularização desse hábito cabe agora às empresas investirem em sistemas e campanhas que tragam segurança e confiança aos seus clientes na execução de pagamentos e movimentações financeiras.

 

* Jamil Ismael Junior é consultor da área de banking da IBM Brasil.

 

Categorias: Notícias